Nos primeiros meses de 2020 a humanidade foi surpreendida com a mais impactante variável conhecida nos últimos cem anos: a pandemia da covid-19, que alcançou todo o planeta com a velocidade dos voos internacionais e, em meio a um grande espanto, em poucas semanas superlotou hospitais, destruiu vidas e a qualidade de vida. Como consequência, na busca pela sobrevivência e fuga da grande ameaça, as pessoas foram levadas pelas óbvias contingências mundiais a se afastarem dos demais, fossem eles familiares queridos, idosos, amigos, colegas de trabalho e outros. Alguns perderam fonte de renda, outros perderam familiares que proviam seu sustento, muitos perderam a rotina de vida. O ser humano se comporta sempre de modo a obter aquilo que é necessário à sua sobrevivência e bem-estar. Assim, ao longo da vida e com a experiência de observar ou vivenciar contextos diferentes, as pessoas testam comportamentos novos, mudam hábitos e adotam outros compatíveis com a demanda do local e do momento em que vivem. Essas mudanças são graduais e lentas em sua maioria, em geral, esperadas ou antecipadas e associadas a crescimento pessoal e algum tipo de ganho. O fator emocional médio todas as mudanças buscadas ou impostas.
A pandemia impôs mudanças inegociáveis envolvendo alterações imediatas na rotina até então adotada e novo estilo de vida como opção única de sobrevivência. Algumas pessoas puderam adotar práticas produtivas e saudáveis, mas a maioria se viu na condição de fazer escolhas paradoxais como distanciamento de pessoas amadas como ato de amor, abandono de um trabalho fixo para assegurar um trabalho futuro, aumento no uso de álcool e substâncias ilícitas ou mergulho excessivo no mundo virtual para facilitar o isolamento até chegar a “normalidade”.
Reconhecido como um dos marcos da ciência em benefício da humanidade nas inúmeras dimensões da vida, o mundo virtual tornou-se um dos grandes problemas para a qualidade de vida por afetar o comportamento das pessoas e causar adoecimento mental, tanto pelo conteúdo buscado, quando pela frequência de uso. O grande desafio é lidar com o caráter paradoxal dessa ferramenta que permite ocupar o tempo, minimizar a solidão e trazer alguma sensação de pertencimento quando a pessoa se percebe em um universo pessoal vazio e o adoecimento decorrente desse uso. A busca por sites, em especial redes sociais, implica ler opiniões e visualizar aparência e comportamentos de pessoas conhecidas ou, em sua maioria desconhecidas, que podem afetar os valores, opiniões e respostas emocionais do indivíduo que se compara e se questiona em relação a outra figura reconhecida por vários seguidores.
O mundo social do usuário pode então se limitar a seguir essas pessoas e resultar em imitação de comportamentos aceitos e reconhecidos pelos demais seguidores, considerando o valor aparente dos estilos de vida de pessoas famosas. Como consequência, a vida do usuário pode ser afetada sem que nenhuma forma de reconhecimento venha para ele próprio. O ganho geralmente é nenhum e o sofrimento pode ser duradouro. É importante considerar que pessoas em redes sociais, com muitos seguidores, desempenham um papel com este objetivo, que não significa sua vida real. Para a saúde física e mental, durante a pandemia, é importante aceitar os limites impostos e usar com moderação as possibilidades alcançáveis.
Fonte: noticias.unb